É possível uma mãe matar seu filho?

 Mãe é uma palavra que carrega muitos sentimentos, muitos a chamam de sagrada, outros dizem ser uma construção social. Eu fico no meio termo. Ela tem muito de sacralidade quando somos mães por inteiro, quando sentimos o que nossos filhos sentem como se eles fossem a extensão de nosso corpo. Por outro lado, mãe NÃO É sinônimo de mulher. Isso sim foi imposto culturalmente pelo patriarcado há séculos que pesou sobre todas as mulheres. O fato é que nem toda mulher nasceu para ser mãe, muito embora, biologicamente, todas estão aptas a sê-lo. A escolha, em nosso mundo moderno, deve ser a tônica de toda mulher e, diga-se de passagem, a escolha deve ser feita antes de engravidar, de preferência.

A questão que quero trazer a esse artigo, no entanto, refere-se ao fato de que nem toda mãe entende o seu papel, talvez por não ter optado conscientemente em sê-lo.

Recentemente assisti ao filme The Act, cujo enredo contava a história real de uma mãe que sofria da Síndrome de munchausen por procuração, tendo ela aprisionado sua filha saudável a uma vida de menina doente e incapacitada, recebendo muita atenção e até prêmios de instituições filantrópicas. Sua carência afetiva a fazia gostar das atenções secundárias que recebia através da filha, mesmo ao custo de sacrificar uma vida bela e saudável.

Já aqui no Brasil, um caso recente que me atormenta cada vez que vejo o noticiário é o caso do menino Henry, cujos pormenores do caso me pouparei de contar uma vez que a mídia já faz isso com eficiência.

O fato é que me chamou a atenção a rotina dessa mãe quando deixava seu filho aos cuidados da babá para ir ao salão de beleza ou à academia de ginástica. Veja bem, não estou aqui para julgar ninguém, o fato é que ela não tomava nenhuma atitude, mesmo quando o menino lhe solicitava a sua presença. O mínimo esperado de uma mãe é que ela levasse a criança com ela, ainda que junto com a babá.

Tornar-se mãe é relativamente fácil, difícil é saber criar e eu ainda acrescento criar com afeto, carinho, atenção às suas necessidades emocionais e, principalmente, com uma certa dose de renúncia. Sim, renúncia ao cabelo arrumado, à unha bem-feita, tudo isso uma mãe consciente troca facilmente por um abraço, um sorriso, um estar juntos e momentos de companhia.

Ela não tinha isso, ela não era uma mãe consciente... era uma pseudo-mãe que atraiu um monstro para sua vida, um lobo com pele de cordeiro, um Barba Azul. Quero me ater à análise do papel da mulher, aqui, e não do homem.

Então, passei a pensar sobre a relação dessas “mães” e o conto do Barba Azul, versão da Clarice Pínkolas, onde a mulher ingênua se deixa levar pela formosura de um homem de barba cor de índigo e muita riqueza. Este homem lhe prometeu uma vida de luxo, conforto e riqueza, desde que ela lhe obedecesse cegamente. As irmãs da noiva já haviam sido cortejadas, mas com uma intuição mais aguçada, recusaram a oferta. A caçula, ingênua, se deixou levar pela formosura do homem e, mesmo desconfiando de que algo não ia bem, relevou sua desconfiança e aceitou o pedido de casamento. Bom, o conto segue e a lição que fica é a de que as meninas precisam amadurecer, desconfiar de homens que oferecem uma vida boa, mesmo sendo de família influente, porque a vida é mais que olhar o próprio umbigo e o homem que sustenta uma mulher ainda se sente proprietário dela.

As meninas precisam passar por um processo de amadurecimento e não cair no conto do Barba azul, que guardava os corpos das ex-esposas assassinadas dentro de um quarto proibido.

Amadurecer é um processo lento e a família e a sociedade, através de programas de educação sexual nas escolas, devem ajudar nesse processo para que as moças se empoderem emocionalmente, aprendendo que uma união é complemento e não dependência.

Respondendo à pergunta que dá título a este texto, creio que a resposta é não. Uma mãe jamais mataria seu próprio filho, não uma mãe consciente.

                Autora: Milena Ramos, mãe, professora, reikiana, que ama e respeita todas as formas de vida, mas não se subjuga a nenhuma delas.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O MISTÉRIO DOS CINCO ESTRELAS 6s ANOS

A BOLSA AMARELA