O TREM DE PRATA

Era uma vez uma cidade
muito distante de tudo. Naquele lugar não havia nada dessas coisas de cidade
grande. Não tinha shopping, não tinha internet, nem videogames nem nada!
Só
tinha mato, roçado e um punhado de bicho brabo que vivia pelas matas de lá. De
noitinha, só o murmúrio dos grilos, sapos e urutaus. Tinha também uma linha de
trem onde passava toda a manhã o enorme, imponente trem de ferro. Com seu apito
e sua fumaça, levava a gente pela estrada para outras cidade.
-
Olha o trem! Olha o trem! – juntava toda a meninada pra ver o trem passar e,
arte de moleque, atiravam pedras na sua lataria que, impecável, nem arranhava.
Pedro,
filho mais novo de d. Joaquina, morria de pena da mãe, porque ela trabalhava de
sol a sol, no roçado, em casa, cuidava dos filhos e da bicharada. Era galinha,
porco e vaca.
Dos
quatro irmãos, só ele acalentava um sonho: seguir para a cidade no trem de
ferro, conseguir trabalho, ganhar muito dinheiro e dar uma vida melhor pra sua
mãe.
Mas
não tinha dinheiro pra comprar passagem, até tentou seguir clandestino, mas foi
pego na cidadezinha vizinha, tão pobrezinha quanto a sua, e teve que voltar a
pé. Foi um fiasco...
Então
resolveu: “Vou sair pra caçar algum bicho no mato e vender por aqui. Com o
dinheiro compro passagem”. E assim arquitetou seu plano e fez.
Na
tarde seguinte depois do almoço, pegou a espingarda que tinha sido do seu pai e
saiu sem avisar a mãe, que já estava no roçado, arando a terra.
Depois
de alguns passos embrenhados no meio da mata fechada, caiu num buraco de onça!
Nossa! Que susto! O buraco era muito fundo! Quase não via a luz do dia e,
caindo de mal jeito, ficou com o corpo todo dolorido. Não podia levantar, então
começou a gritar. Mas, que triste sina a sua, ninguém ouvia essa lamúria...
Cansou
e parou de gritar. Sentiu sono e dormiu um bocado. Despertou com a chuva caindo
no seu rosto; era noite. Sentiu medo. Sentiu remorso. Sua mãe deveria estar
aflita, orando para São Pedro – por causa do seu nome – e para a Santa Rita.
Ele
também se lembrou de orar e pediu: “Senhor Deus, por favor, envie alguém para
me tirar daqui”. Não tardou muito e viu uma luz muito suave adentrando o
buraco, percebeu uma mão próxima a ele. Estendeu para ela e alguém o tirou
dali.
-
Seu moço, muito obrigado pela ajuda! Nem sei como agradecer...
-
Na verdade, foi você quem pediu para que eu viesse. Agora, me diga: qual o seu
maior sonho nessa vida?
-
Ah, eu queria tanto poder pegar aquele trem de ferro, ir para a cidade,
trabalhar e dar uma vida melhor pra minha mãezinha....
-
Sei... o trem não é?
-
É sim, moço, o trem de ferro... – divagou o menino – meu maior sonho era poder
viajar naquele trem...
-
Então vamos!
-
Como assim? – admirou-se o rapaz.
-
Vamos viajar nesse trem especial.
O
moço passou o braço pelo ombro do menino e o envolveu em tanto carinho que o
pobrezinho de tudo o mais se esqueceu.
-
Agora não se preocupe mais. Você vai descansar e, quem sabe, mais tarde poderá
voltar.
Na
espera, à margem da linha do trem, estavam os dois a esperar quando o menino
viu ao longe um deslumbrante trem de metal, com nuances azuis, chegando e
iluminando todo o firmamento.
-
Uau.... que lindo!!!! Parece maior e mais bonito do que antes!!!!
O
moço apenas sorriu e continuou envolvendo-o em um abraço acolhedor quando o
trem parou e eles, finalmente, entraram e tomaram assento. O menino, é claro,
ficou no assento ao lado da janela. Seus olhos vidrados não queriam perder um
só milímetro da viagem. Era muita emoção para o seu inocente coraçãozinho.
E
assim foi, seguindo no trem azul para outra cidade, em outros páramos, de
outros planos e em outras dimensões.
Comentários
Postar um comentário
Em 24 horas seu comentário será liberado.